Monday, July 31, 2006

 

O Que Creio Sobre Dons Espetaculares - Parte 1

Esse tema tem sido muito desenvolvido e discutido hoje no meio reformado. Existem basicamente duas visões que se denominam cessacionistas e contemporanistas. Discorrendo rapidamente sobre essas duas vertentes, nós temos os primeiros como aqueles que crêem que os dons espetaculares (línguas, visões, profecias, revelações, cura, expelir demônios, apóstolos) não estão mais vigentes e não são dados pelo Espírito Santo à sua igreja há algum tempo, por não haver a necessidade real disso. Já o grupo respectivo crê que esses dons ainda vigoram na igreja de Cristo.

Os dons espetaculares na verdade estão mais ligados à milagres visíveis que demonstram um certo tipo de poder e autoridade daqueles que os detém, colocando esses indivíduos na mesma estirpe de apóstolos e profetas descritos na Palavra de Deus. Mas há aqueles que crêem que, apesar destes ofícios não serem mais exercidos no seio do povo de Deus, o dom respectivo pode ser distribuído pelo Espírito.

Eu me encaixo mais no grupo dos cessacionistas, apesar de ter algumas restrições de como ele tem sido ensinado. Confesso que estou muito longe de crer na contemporaneidade dos dons espetaculares, mas deixe-me ser mais específico e explicar melhor minha posição.

Creio que o usufruto dos dons espirituais como eles tem sido divulgados e expostos nas igrejas de cunho neo e pentecostais é falso. Na Palavra do Senhor vejo que os dons são distribuídos pelo Espírito como lhe apraz (1 Co 12:11 e 18) para um fim proveitoso (1 Co 12:6), que se caracteriza na edificação da igreja (Ef. 4:11-12). Além disso, Paulo deixa explicitamente claro que a igreja de Cristo é um corpo, necessitando então de vários membros e cada qual com sua função (1Co 12:12 e 14) e isto não implica necessariamente em fazer qualquer tipo de milagre.

O que temos observado hoje é bem diferente do que foi feito no passado. O entendimento equivocado de algumas passagens bíblicas e a experiência pessoal acima da revelação de Deus têm norteado a prática de uma enorme gama de evangélicos fazendo com que estes caiam no erro de acharem que a prática da santidade ou de uma mensagem poderosa deve vir acompanhada de uma manifestação sobrenatural, enquanto a Palavra nos mostra que os dons espetaculares tinham sempre uma finalidade maior, algo que, pelo próprio nome já se diz espetacular e não banal. A marginalização destes dons fazem com que suas características principais caiam por terra, que são:

1) Manifestar a glória de Deus em tempos de muita incredulidade - Quando os tempos são adversos à Palavra e o contexto do povo é de maior rebelião a Deus, o Soberano dá autoridade a alguns homens para ministrarem cura ou até mesmo fazer coisas fantásticas para que o Evangelho tenha crédito. Então Deus pode mostrar aos incrédulos sua glória e poder quando alguém, que verdadeiramente vai em nome dele use de poderes sobrenaturais para confirmar sua a pregação. Vide Elias e os apóstolos em Atos. Apesar de nossa época também haver incredulidade, os dons serviriam para um local e situação onde há adversidade, contrariedade e reupulsa pelo verdadeiro Evangelho de Cristo, como no caso dos dois exemplos já citados.

2) Edificar a igreja de Deus - Não menos importante, os dons são para edificação do corpo. Quando Paulo escreve aos de Corinto, ele tinha em mente que houvesse esse sentimento no seio da igreja, trazendo então uma ordem e racionalidade, mesmo em meio aos milagres, que erroneamente nos fariam excluir qualquer lógica em detrimento da emoção. Quando os dons eram usados, eles deveriam servir para que a igreja compreendesse os propósitos de Deus e então toda igreja fosse abençoada, e não só alguns poucos; por isso ele fala da necessidade de haver decência e organização no culto. Esta idéia vem somente corroborar com o ensino de que os dons são distribuídos por Deus, conforme lhe apraz para glória dele. A igreja é e pode ser edificada e abençoada sem o uso destes dons, mas a condição corre junto com o argumento acima exposto.

3) Exercer a comunhão - À primeira vista pode parecer que não, mas se nós pensarmos que os dons devem ser exercidos pela igreja para sua edificação e para glória de Deus, cairemos inevitavelmente na comunhão entre os irmãos. Quando Paulo revela aos Coríntios que havia preferência em profetizar à falar em línguas, sua intenção era que os irmão fossem não somente edificados pela palavra, mas também consolados e então, juntos, mostrassem aos incrédulos que Deus realmente estava agindo naquele lugar. A comunhão gerada pela edificação será uma maneira de medir os efeitos que os dons espetaculares têm sobre a igreja.

Na minha visão estes são os argumentos e motivos principais para que os dons espetaculares sejam oferecidos por Deus para sua igreja. Sendo mais específico ainda ouso dar um exemplo prático de como vejo esse tema tão enriquecedor, quando acolhido com humildade:

Não creio que Deus use o dom da cura através de um servo seu para dar crédito à sua Palavra no centro de São Paulo, por exemplo. Não me entendam mal, eu creio absolutamente na Soberania de Deus que pode curar quem quer, quando quer e como quer. Mas algumas evidências bíblicas me motivam a crer que esse não seria um método divino mais comum. Aqui, a palavra de Deus não recebe qualquer tipo de perseguição ou rejeição. Temos liberdade para pregar, evangelizar e falar de Cristo e seu sacrifício para todo mundo ouvir. Não seria necessária um intervenção miraculosa para que o Evangelho fosse realmente reconhecido como a verdade. Agora, creio fielmente que Deus daria a um servo seu, num lugar inóspito e adverso à palavra um "dom momentâneo" de curar alguém para que sua pregação ganhe crédito. Através de uma oração, de uma petição ou até mesmo algum clamor Deus ouviria seu servo, que é fiel à sua palavra e lhe garantiria autoridade para mostrar àquele povo rebelde a Soberania e Salvação que vem do Altíssimo. Mais uma vez repito que Deus faz e sempre fez o que quer e como quer. Mas não vejo respaldo bíblico algum para confirmar o que certas igrejas (até mesmo históricas) têm feito pelo nosso Brasil afora.

Pretendo continuar esse texto falando mais sobre, na minha visão, quando cessaram os dons espetaculares.

Comments:
Oi André, esse assunto é bem contemporâneo :-)

Você disse:
"Não creio que Deus use o dom da cura através de um servo seu para dar crédito à sua Palavra no centro de São Paulo, por exemplo."
Por aqui se conclui então que você não acha que Deus faz isso.

Então você diz
"Não me entendam mal, eu creio absolutamente na Soberania de Deus que pode curar quem quer, quando quer e como quer."
Essa frase ficou aparentemente contraditória, mas vejo que você então tentou se esclarecer na próxima frase:
"Mas algumas evidências bíblicas me motivam a crer que esse não seria um método divino mais comum."
Você diz que esse não seria o método divino mais comum, porém isso logicamente implica que PODE acontecer, mas não é o mais comum, indo contra o que você afirmou na primeira frase.

Não sei se foi isso que você quis dizer, mas aqui vai o q acho que entendi como um todo: Deus pode, tem soberania, e pode curar, mas a presença de ocorrências inexplicáveis não é inerente para que exista verdadeira manifestação divina e espiritual em um local. E o oposto também é verdade; a falta de manifestação não indica falta de espiritualidade ou atuação divina.


Por fim, você disse "Agora, creio fielmente que Deus daria a um servo seu, num lugar inóspito e adverso à palavra um "dom momentâneo" de curar alguém para que sua pregação ganhe crédito." - Será que milagres ocorrem/ocorreriam só para que o pregador ganhe crédito? Ou seria para abrir os olhos das testemunhas? Abrir os olhos do curado? Não sei, pra mim ficou meio engessado o propósito da manifestação de Deus (tanto nessa frase quanto no seu primeiro ponto).

Enfim, continue postando.

Grande abraço do seu amigo criador de caso,

Daniel
 
Daniel,

Obrigado pela contribuição. Quanto aos seus questionamentos:

Quando propus que não há essa ação por parte de Deus, quis deixar claro que biblicamente falando ela é rara e dentro dos contextos que ela acontece se torna improvável sua relação onde a Palavra de Deus não sofre repudiação. Apesar de ter essa posição, reconheço a Soberania exaustiva de Deus em fazer tudo somente como lhe apraz, o que eventualmente poderia categorizar uma afirmação absoluta minha reprovável.

Sobre seu segundo ponto, creio que ficou mesmo meio obscurecido essa parte. Mas, como expliquei "garantiria autoridade para mostrar àquele povo rebelde a Soberania e [b]Salvação[/b] que vem do Altíssimo". Acho que ficou meio implícito, mas obrigado por enfatizar esse meu percalço.

E se você postasse eu poderia ir lá criar caso também... :-p

Abração de seu amigo psudo-herege

André
 
Ae bonitão, postei ontem, mas nada controverso... hehehe

abraço,

Daniel
 
André,

O seu post está bom, e gostei da maneira como abordou o assunto. Eu teria uma ou outra diferença, mas nada que me impedisse de, ao final, me alinhar com você e suas conclusões.

Um abraço.
 
Olá irmão André, a paz!

Haviamos conversado um pouco sobre esta questão de dons espirituais no ex-fórum do monergismo, está lembrado?

Pois então, estou aguardando as próximas partes do estudo. Como já havia dito, temos que basear a nossa fé somente nas Escrituras, e jamais apelarmos para nossas experiências como provas de doutrinas. Não é porque há tanto mau uso (e falácias) de dons espirituais por aí, é que devemos desacreditá-los.

Examinando as Escrituras, vemos que Deus prometeu nos últimos dias conceder o Espírito e operar sinais maravilhosos. Hoje estamos nos últimos dias, certo?

E também não há passagem bíblica que diga que os dons cessaram. I Coríntios 13 não pode se referir à formação do canôn bíblico, senão entraria em contradição com os "últimos dias" de Joel!

Apenas algumas considerações... se quiser podemos conversar melhor sobre isso por email.

Ah, e não deixe de visitar o meu blog: teologia-vida.blogspot.com

Abraço irmão, que Deus te abençoe!
 
Rev. Augustus,

Obrigado pela participação em meu humilde blog. Sinta-se em casa... :-)

Davi,

Lembro sim. Como comentávamos no fórum, podemos tirar conceitos bíblicos que estão implícitos.

Qualquer coisa, façamos contato por email. E com certeza visitarei seu blog.

Obrigado a todos, fiquem com Deus,

Abraços Reformados,

André
 
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André,
Apesar de me considerar reformado assim como você, eu discordo quanto aos dons espetaculares.
Pelo simples fato de que Paulo orienta os coríntios em (obviamente)1Co 12.
Ele está dando orientações sobre o uso de dons a toda a igreja e não somente a um grupo de líderes da igreja.
Penso que não há evidência bíblica para o cessacionismo.
Esta é a minha humilde opinião.
Um abraço,
João
 
João,

Obrigado pela sua opinião.

Creio que os textos bíblicos que mencionam os dons espetaculares em sua atividade vêm acompanhados de um contexto sócio-histórico muito similar, e no meu próximo post pretendo explicar quando, creio eu, estes dons aos poucos foram sendo diminuidos.

Não creio que os dons não existam, creio que eles devem existir num contexto diferente ao que vivo, por exemplo.

Abraços e volte sempre.
 
Parabéns pelo seu Blog, ele é excelente e de grande ajuda a todos nós que desfrutamos de tudo que você tem postado.

Paz!
faculdade evangelica
 
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