Tuesday, March 20, 2007

 

Re-apresentação

Prazer. Sou o André Scordamaglio, tudo bom?
Depois de tanto tempo sem postar acho que perdi o jeito. Então vou começar com um post bem água-com-açúcar para não fazer mais feio do que já fazia. Vou postar um texto muito conveniente para nossa época, apesar de ter sido escrito há algum tempo.

VERDADEIRO AVIVAMENTO - Parte I

Apocalipse 2:4 Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.

Apocalipse 2:5 Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.

Quando me deparo com este texto (e ultimamente tenho-o lido com constância, por incrível que pareça!) penso na minha vida dentro da igreja, minha relação com meus pais e irmãos, com minha namorada, com meus amigos e enfim; no todo. À primeira vista pode parecer que não existe muita relação em algo extra-eclesiástico, mas o texto se refere ao primeiro amor juntamente com a prática das primeiras obras.

Nós reformados bem sabemos que Deus quando nos salva, o faz por inteiro, integralmente. Claro que continuamos pecadores e com dificuldades em certas áreas específicas, mas a ordem é para que as primeiras obras sejam não só relembradas, mas praticadas. Quando vejo textos das Sagradas Escrituras mostrando o que a ação do Espírito pode fazer na vida de alguém regenerado, sinto como se estivesse em débito exorbitante para com Deus.

Na verdade, muitas vezes tudo parece muito mecânico. Temos nossa vida "secular" e nossa vida "na igreja". Então acordamos cedo para trabalhar, voltamos tarde para casa (muito mais se estudamos à noite) e o dia acaba. Isso é constante até o sábado. No sábado, pode ser que nos animemos para ir numa programação e o fazemos. Aí no domingo tem EBD (escola bíblica dominical), às vezes alguns de nós ensaiamos na equipe de louvor, no coral ou algo parecido, cultuamos à Deus e voltamos para casa loucos para assistir o resultado do futebol. E assim se passam semanas, meses e até anos!

Mas pera aí, sempre assim? Desse jeito? Nunca muda? Tá vendo, parece maçante só lendo! E aí caímos no perigo de fazermos o que a igreja de Éfeso fez: abandonar o primeiro amor. E quando abandonamos o primeiro amor somos passíveis de sermos repreendidos pelo Senhor e vermos de onde caímos para praticarmos as primeiras obras.

Ora, mas nós já não estamos praticando? Não fazemos tudo quanto nos é ordenado? Não trabalhamos na igreja, não fazemos isso, não fazemos aquilo? Podemos sim estar fazendo, mas e nosso coração? Será que ele, como lhe era peculiar fazer, tem o mesmo regozijo, amor, integridade, piedade, vontade, disponibilidade, espontaneidade e outros "ades" que nos condenam?

Se não, com certeza estamos pecando. Se sim, Deus continue tendo misericórdia de nós.

Mas e a solução?! Se não estou fazendo, como voltar a fazer?!

Isso fica pro próximo post...

Thursday, October 26, 2006

 

Onde tudo começa



Para nós reformados, a motriz de toda elocubração teológica deve começar com a Palavra de Deus; e na verdade, deve passar por ela e terminar com ela. Com isso quero dizer que nossas doutrinas, sistemas de governo, ensinamentos que servem para piedade e tudo mais devem obrigatoriamente ter base sólida nas Escrituras. Mas dizer isso é normal para um cristão, ou pelo menos deveria ser.

O que hoje tenho encontrado são pessoas que procuram desenvolver um raciocínio que parte das Escrituras mas não passam e muito menos terminam por ela e com ela. São pessoas que retiram um suposto ensinamento bíblico que não está lá, que deturpam passagens e ferem os mais básicos conceitos da hermenêutica mais sadia que é a bíblia interpreta a própria bíblia.

Mas é claro que essa verdade só fará sentido para aqueles que crêem que ela seja a Palavra inspirada, inerrante e infalível que pela Providência do Senhor está hoje em nossas mãos. O fato é que alguns ditos cristãos estão aderindo ao subjetivismo teológico. Isso não é bom sinal. Quando você confronta idéias e interpretações que são retiradas das Sagradas Escrituras, a sua base e seu apoio devem corroborar em toda parte dela; ou haveria a possibilidade de Deus entrar em contradição com relação à sua vontade expositiva para seu povo? Creio que esta não seja uma opção viável defendida por algum filho de Deus.

A sistematização dos ensinos bíblicos, a confessionalidade pessoal, o apoio bíblico sólido para um ensinamento e suas vertentes devem fazer parte de nossa vida. Em nossas devocionais diárias, ou até na leitura "obrigatória" para desenvolver uma tese ou estudo, passa por uma análise crítica do texto, retirando dele o mais puro e eficaz ensinamento. E nosso dever como servos de Deus é acatar e glorificar ao Soberano por isso, mesmo que fira e haja algum atrito com aquilo que nós pensávamos que era a verdade. Nossa preocupação para obedecer ao Senhor passa por aprender aquilo que está sendo ensinado. E não é somente aprender para saber, mas aplicar este conhecimento à nossa vida, fazendo com que nos tornemos sábios para salvação (2Tm 3:15). Veja que a correta interpretação da Palavra de Deus nos traz benefícios ímpares de comunhão com Deus, com nossos familiares e com nossos irmãos na fé.

O problema é quando toda virtude que reside em retirar o ensinamento correto se torna algo desprezível. Já não mais há uma motivação e anseio em estudar a Palavra do Senhor simplesmente porquê ela não contém a verdade absoluta e irrefutável. Eu posso adicionar algo que meu coração me diz, posso tirar de mim mesmo as respostas para a problemática da vida e posso não me conformar com aquilo que está escrito somente. Quando começamos a direcionar o foco de nossas atenções teológicas para outras fontes que são alheias à bíblia, temos que repensar se aquilo que estamos fazendo corrobora para glória e engrandecimento de Deus, do seu povo e se serve para edificação.

Se eu tenho a Palavra de Deus em mãos para analisar, estudar e me deleitar nela, por que insistir em discordar? Só por que "EU ACHO"? Só por que "NÃO ME SATISFAZ"?

A causa maior de toda heresia e erro teológico é deixar as Escrituras de lado para retirar o ensinamento do coração humano. E sua consequência é subjulgá-la com descaso, pois já não mais há verdade em que se basear.

Termino com as belas palavras do rei segundo o coração de Deus, num dos meus salmos prediletos.

A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é límpido e permanece para sempre; os juízos do SENHOR são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos, além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa.

(Sl 19:7-11)


Wednesday, October 18, 2006

 

Pois em ti confio...



Atos 27:25 Portanto, senhores, tende bom ânimo! Pois eu confio em Deus que sucederá do modo por que me foi dito.


Creio que quando Paulo disse essas palavras, ele não estava nem mentindo e muito menos tentando simplesmente acalmar os navegantes. A situação narrada neste capítulo de Atos mostra que ele [e provavelmente Lucas junto] estavam naufragando por culpa dos que confiavam em si mesmos ou na força do homem (v.11). Então, quando a situação se tornou desesperadora, houve essa intervenção por parte de Paulo acalmando o coração dos tripulantes.


Mas, que Deus é esse que gera confiança em nós? Que Deus é esse que faz com que nosso coração se sinta confortado e consolado em meio ao mais terrível tormento? Com certeza, não é o deus apresentado por muitos teólogos "brilhantes" e "pensantes" do nosso tempo.

Esse é o Deus da bíblia, o Deus das Escrituras; Aquele que domina sobre tudo (Sl. 103:19), age somente de acordo com sua vontade (Dn. 4:35) e que está acima da sua criação (Is. 40:25).

Paulo sabia disso. Ele tinha a certeza que podia confiar totalmente em Deus, pois Ele realizaria o que havia prometido. Ele não hesitou em bramar em alto e bom som que confiava no Altíssimo, que realizaria sua vontade e cumpriria aquilo que havia proferido.

Agora, como confiar num deus volátil, que muda conforme a situação? Como confiar num deus que se amolda à vontade humana e faz, ou melhor não faz, aquilo que realmente deseja? Há possibilidade de adorar um deus assim? Há conforto, regozijo, prazer e deleite num deus que está de mãos atadas? E pior, atadas por vontades e desejos humanos!?!

E aí, em qual deles você vai confiar? Em Deus? Ou em deus?

Cuidado pra não confiar em deus achando que confia em Deus. E como diz as Escrituras "a ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos" Salmos 22:5.


Monday, October 09, 2006

 

O poder de ter poder

Sabe, estou realmente com a pulga atrás da orelha. Eu, com minha insaciável vontade de ver a teologia reformada ser difundida e reconhecida como a verdade por todos, acabo, muitas vezes, extrapolando. Mas não foi este o caso.

Meu camarada navegueiro Gustavo Nagel me indicou o blog do Ed René Kivitz, ao qual nunca tinha lido. Vendo seu profile, ele diz que é pastor batista aqui em são paulo. Só que, quando me deparei com o conteúdo de seus escritos, percebi que de batista mesmo suas confissões não tinham nada.

Infelizmente a CBB tem se calcado em uma heterodoxia que é repugnante. Muitas igrejas filiadas à IPB também estão neste mesmo buraco, mas não é sobre isso que vou falar (pelo menos neste post). Meu ponto aqui é a lamentável atitude do sr. René com relação ao seu blog.

Semana passada, sexta-feira para ser mais exato, eu li seu post entitulado Nosso Destino. Deve ser hoje o terceiro ou quarto de sua lista mais recente. Você que aprecia a teologia reformada e crê nas Escrituras como sendo a Palavra infalível e inerrante de Deus, poderá perceber as elocubrações macabras deste indivíduo, pra ser bem mansinho com ele. Então eu, sempre inflamado quando vejo e ouço lixo, principalmente aquele que se refere à Deus e suas obras, mandei um comments ao seu post. Pra falar a verdade, bem light. Lendo depois eu acho que deveria ser mais enfático, mas vá lá, era a primeira vez que estava comentando e não sabia como o nosso amigo reagiria ao meu post. Bom, foi a primeira e última. Hoje, para minha surpresa, quando entro no seu blog pra ler uma possível resposta às minhas perguntas, encontro comentários apagados e motivos chulos e chucros; comparando seu blog à um restaurante que serve pratos aos seus convidados e que, como eu e outros havíamos comentado em seu blog, claro que estendendo a bandeira reformada, ele se sentiu na obrigação de passar uma borracha em tudo e simplesmente seguir a vida.

Claro, o blog é dele. Ele faz o que quiser com os comentários postados lá. Eu nem conheço o cara. Julgo e analiso o que ele escreveu. Mas meus amigos, me deixa uma sensação de que ser confrontado não é a dele. Será medo? Será vergonha de ser colocado na parede? E olha que eu nem tenho uma AR-15, quiçá um estilingue com duas pedrinhas! Será que ele não está acostumado a ser confrontado com a bíblia na mão?

Não sei, e também não vou procurar saber. Talvez nossas palavras reformadas sejam muito apimentadas para seu gosto liberal. Talvez o pessoal saiu reclamando do restaurante.

Mas que a indigestão surtiu efeito, ah...surtiu mesmo...

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Só uma observaçãozinha: eu estou tentando postar algum tipo de foto pra deixar o blog mais com a minha cara sarcástica, mas não estou conseguindo. Quem tiver senso de humor, clique aqui.

Tuesday, October 03, 2006

 

posso reclamar sem me importar


Sabe, não sei se são meus olhos muito críticos mas me parece que quando alguém perde um certo status em qualquer lugar, sua primeira reação é reclamar. E não sou o único a perceber isso.

Neste caso específico, o cara não esperneou, mas num tom quase que santo, ele se julga o homem mais misericordioso da terra e o que mais se aflige com as situações precárias de homens "injustiçados por Deus". Como num Tsunami depois do Natal*, ele espalhou aos quatro ventos [denovo] que discorda da ortodoxia calvinista clássica, que tem sido apregoada por igrejas históricas ao longo dos tempos. Mas essa não é a ênfase dele. Se você não for cuidadoso na sua leitura, ele não está chovendo no molhado, mas levanta outra questão: sua rejeição no meio reformado.

Aquele que assumiu uma posição doutrinária muito aquém dos ensinos bíblicos está se vendo cada vez mais distante do mundo reformado e seus "prazeres". Tal qual o mendigo coberto de lama, ele quer que vejamos nele essa figura tão pobre e carente de afeto e amabilidade. Como se o ultrajássemos constantemente, ele é a "pedra rejeitada" pelos seus, embora nunca tenha sido dos nossos. Então, correndo uma maratona em que o prêmio seria tornar-se um mártir, ele sente o outro lado, o gosto amargo de se ver empurrado e jogado por nós no mesmo saco dos outros que deixaram o que ele deixou: o Sola Scriptura, trocado por seus sentimentos.

Agora, um coração todo quebrantado e cheio de compaixão por si mesmo chora, com esse terrível artigo, como quem diz "não me importo", mas escrito por importar-se, e muito.

* O texto orginal que estava no seu site sumiu, por isso joguei o link para outro lugar. Será que foi vergonha? Fica no ar...

Thursday, September 28, 2006

 

Eleições


Quisera eu ser discreto. Quisera eu ter mais "cabresto ético". Quisera eu não me inflamar com o que leio, ouço e vejo. Quiser eu ser menos irônico.

Quisera eu que a realidade do Brasil depois do dia 01/10 seja outra, senão que este crápula rodeado de amigos falácios e ladrões sejam declarados mortos para política.

Quisera eu que o povo brasileiro tivesse memória e nas próximas eleições lembrasse de Lula Lá e seus 40 mil ladrões.

Quisera eu que Deus ouvisse meu clamor e tivesse misericórdia do Brasil, apesar dos pesares.

Quisera eu que meu orgulho tucano hoje não se transforme em decepção amanhã, como aconteceu com os red stars.

Friday, September 22, 2006

 

Desabafo de um pecador


Ontem eu estava péssimo. Na verdade, ainda estou meio baqueado. Péssimo aos meus olhos terrenos, claro, mas se formos pensar numa ótica espiritual penso que seja uma das mais belas evidências de Deus em minha vida.

Bem, o caso é que ontem eu estava me sentindo [e continuo] como o pior dos pecadores. Como creio que a Bíblia é inspirada e não mente, vou pelo lado de que Paulo não me conhecia quando escreveu "Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal." (1 Tm 1:15).

Sinto-me um lixo. Quando olho para minha vida, vejo um pecador horrendo, que merece diariamente a morte e eternamente o inferno. Na verdade, não sei como o próprio Deus Santíssimo habita em mim, com todas minhas imperfeições e todos meus inumeráveis defeitos. Quando olho ao redor e vejo homens como meu pai, um exemplo de cristão, sou envergonhado e até penso que, mesmo ele sendo pecador e necessitando da graça de Deus, creio que sua eleição foi correta e justa, apesar de saber que o próprio Senhor produz no coração dele todas essas coisas.

Mas quando me vejo, penso que Deus é persistente e escolhe aqueles menos capacitados, o mais podre e réprobo possível. Quão distante estou dos passos de meu Jesus! Quão longe do alvo! Passo meus dias tentando não pecar e qual o resultado?! Sim, pecado...

Ah, mas graças a Deus por Jesus Cristo. Graças a Deus por sua graça soberana! Eu, sendo insolente e vil, fui alcançado pelo amor de Deus desde antes da fundação do mundo, consciente de não ter merecimento nenhum. Assim como Edmund, posso ser considerado pelo sacríficio perfeito André, o Justo.

Monday, September 04, 2006

 

O Que Creio Sobre Dons Espetaculares - Parte 3

O Cessacionismo Ocasionalista

Como finalizei meu último post, pretendo mostrar neste presente uma visão mais branda do que o cessacionismo tradicional apregoa. Há um certo entendimento radical no meio cessacionista de que Deus não concede de forma alguma os dons espetaculares. "Eles não existem mais e isso é ponto passivo!" - podem dizer meus queridos irmãos cessacionistas. Mas não estou bem convencido deste ponto, apesar de ser um cessacionista.

Como venho mostrando através destes posts, minha visão se baseia mais na relação contextual do que propriamente num possível entendimento textual claro. Antes de me apedrejarem com razão, explicarei: Meu entendimento não provém de uma clareza doutrinária textual, como no caso do Calvinismo e a Soberania de Deus em Romanos 9, Efésios 1 e outras centenas de textos; mas sim de um aglomerado de ensinamentos às vezes não muito claros à primeira vista. Então fazendo alusão ao todo do contexto, as entrelinhas e aos pormenores muitas vezes excluídos das exegeses mais descuidadas. Talvez esta visão seja mais uma inferência lógica do que é implícito na Palavra.

Como já disse, creio que Deus conceda alguns dons espetaculares em momentos peculiares e altamente necessários, assim como creio em milagres dentro deste contexto. Um exemplo são as cartas que os missionários da APMT enviam. Creio que Deus use através do seu poder soberano forças sobrenaturais para sobrepujar a rebelião do povo descrente. Assim como ele pode usar uma oração para curar instantaneamente um nativo e assim mostrar aquele povo (no caso mais vilarejo) que o verdadeiro Deus está sendo representado pelo missionário. A pregação da palavra é sufuciente para conversão, eu creio nisso piamente, mas a Palavra do Senhor nos mostra que em momentos especiais ele se vale de milagres para alcançar os perdidos.

Olhando para esta realidade, não posso descartar que ainda hoje existam estes dons. Creio que eles se restringem à essas condições, somente. Também não descarto a recomendação de Tiago de que os presbíteros devem impor as mãos sobre o doente. Mas não vejo aí um dom da cura como no caso dos missionários e no relato bíblico quando estes dons são exercidos.

Por isso, pelo "conjunto da obra", me classifico como cessacionista ocasionalista. Creio ser uma visão mais branda do cessacionismo tradicional, mas também não abre as portas aos acontecimentos neopentecostais.

Wednesday, August 09, 2006

 

O Que Creio Sobre Dons Espetaculares - Parte 2

Minha visão cessacionista


Minha intenção não era tornar este post tão longo, mas...

No post anterior procurei estabelecer um parâmetro, algumas condições pelas quais me fazem crer que alguns dons não sejam concedidos à igreja hoje. Agora, proponho uma visão um pouco mais histórica para tentar mostrar o por quê disto. Não quero aqui excluir em hipótese nenhuma a palavra de Deus, onde eu estaria sendo com certeza incoerente com Deus, comigo mesmo e com a visão reformada; antes, procurarei estabelecer certas "conexões", algum tipo de inferência lógica que está implícita nas Escrituras.

Os milagres permearam o início do Cristianismo. Como enfatizou bem meu amigo nos comentários do último post, eles serviam para abrir os olhos espirituais dos cegos tanto de Jerusalém como da sua circunvizinhança. Os apóstolos "herdaram" essa missão de Cristo, quando são por Ele comissionados à ir por todo mundo trazer as boas-novas de salvação. Então é conferido à esses homens, desde o princípio de sua trajetória o poder de expelir demônios, curar enfermos, receber revelações divinas e até ressucitar mortos [óbvio, só se ressucita quem está morto!]. O cenário religioso inicial é de um povo rebelde que negou a Deus e seu Filho, conduzido por homens maus e hipócritas que colocavam um jugo pesadíssimo sobre o povo. Olhando um pouco para a visão política, eles estavam sobre o domínio de Roma, com seus imperadores tiranos e sua moral depavada, um povo idólatra influenciado pelo sistema grego de filosofia.

Sobre esse contexto geral vêm as obras de Deus através dos discípulos de Cristo, levando uma mensagem de condenação para uns e conforto para os que criam. Muitas vezes essa mensagem era acompanhada de algum sinal, algo que comprovasse o que os apóstolos e os outros discípulos estavam afirmando e colocando à prova. Esse movimento miraculoso foi a marca cristã após a subida de Cristo e também dentro de seu ministério. Nós conhecemos vários relatos bíblicos de milagres e do uso dos dons espetaculares. Negar isso seria negar a bíblia.

Porém, quando observamos algumas coisas que passam desapercebidas nos textos bíblicos, podemos tirar conclusões precipitadas e defender uma visão equivocada, que as Escrituras não ensinam. Um exemplo disso é a passagem de Joel 2:28 conretizada em Atos 2:1-21. Infelizmente muitos têm usado essa passagem do profeta para provar que os dons espetaculares perdurariam sobre a igreja até a volta de Cristo. Uma coisa simples que eles se esquecem é que quando há a concretização de uma profecia ela se torna nula. Muitos dirão que a profecia menciona "nos últimos dias" como confirmação do seu erro. Acontece que Joel nessa passagem não quis dizer 'no decorrer dos últimos dias', mas 'num determinado momento dos últimos dias'. Alguns diriam que a profecia não termina aqui e sim continua descrevendo um possível momento antes da volta de Cristo. Acontece que quando Pedro cita a profecia ele não a cita completamente. Perceba que ele para "e todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo", quando as palavras de Joel continuam "porque, no monte Sião e Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o SENHOR prometeu, e, entre os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar". Será que Pedro não sabia o resto? Ou será que ele propositalmente omitiu o final? Creio que especular não seja o caminho mais coerente, mas são fatos: a profecia já se cumpriu naquele momento; Pedro não a expôs toda naquele momento.

A continuação vêm com esse texto de Atos. Nele podemos perceber claramente que pela providência e soberania de Deus aconteceu para alguns propósitos revelados:

a) o Espírito concedeu no momento que aprouve e como lhe aprouve somente aos galileus (vv.4, 5 e 7)

b) haviam proposialmente vários homens de várias nações (vv. 5, 9, 10 e 11)

c) estes ouviram em sua própria língua as grandezas de Deus (vv. 6 e 11)

Discorrendo um pouco sobre o primeio íten, a Bíblia enfatiza em vários versículos e passagens a soberania de Deus na concessão dos dons espirituais, sejam eles quais forem. Deus não faz nada sem propósitos e naquele momento este dom de línguas foi dado como um sinal, palavrinha meio esquecida pelos contemporanistas, de que toda língua proclamaria as grandezas de Deus, e não somente os judeus. Com isso Deus estava mostrando ao povo e até aos discípulos que lá se encontravam que todos os povos seriam alcançados pela Graça de Deus. Na espístola paulina aos de Corinto, ele mostra que o dom de línguas era um sinal para os incrédulos (1 Co 14:22), o que me faz concluir que este dom se torna "inútil" para igreja se não houver interpretação (1Co 14:27-28) ou algum incrédulo que fale outra língua conhecida, mas isso trataremos no ponto c).

Lucas ao mencionar minuciosamente os estrangeiros que ali se encontravam quer nos mostrar que, pela providência de Deus, suas grandezas foram espalhadas para os outros povos. Assim como Jonas não quis pregar em Nínive pois ele sabia que alguns de lá seriam convertidos, a Palavra do Senhor tem o poder de transformar vidas e convertê-las ao Senhor. Sendo assim, posso crer que este foi ato Soberano de Deus para que ele fosse conhecido e reconhecido em outros povos de outras línguas e que essa mensagem pudesse ser passada adiante.

Talvez esse último íten seja onde os pentecotais mais "engasgam". A bíblia (graças à Deus!) é claríssima ao mostrar que as línguas faladas são conhecidas e inteligíveis para outros povos. Não há sequer uma pasagem colocada em seu contexto devido que mostre o contrário. Para mim só esse fato bastaria para condenar o evangelicalismo que tem sido praticado por aqui.

Para finaliza, vou dar alguns testemunhos [1] de homens que foram heróis da fé, corroborando com a idéia de que os dons cessaram:

João Crisóstomo (347-407 d. C.) - "Este lugar está completamente obscuro; mas a obscuridade provém da nossa ignorância dos fatos referidos e por sua cessação, sendo que os que então ocorriam, agora já não acontecem" (Homilias sobre 1 Coríntios. vol. XII - Os Pais Nicenos e Pós-Nicenos)

Agostinho (354-430 d. C.) - "No período primitivo, o Espírito Santo caiu sobre os que criam; e falavam em línguas que jamais haviam aprendido, 'como o Espírito Santo lhes concedia que falassem'. Eram sinais adaptados a essa época. Precisava haver aquela evidência do Espírito Santo em todas as línguas, mostrando que o evangelho de Deus havia de correr através de todas as línguas sobre a terra. Aquilo foi feito como evidência, e então passou." (Dez Homilías sobre a Primeira Espístola de João, vol. VII, Os Pais Nicenos e Pós-Nicenos, vol. VI, 10)

Perceba a data de nascimento destes homens. Minha tese é de que os dons cessaram quando a perseguição cessou. Nós sabemos que por volta de 311 d.C. o Cristianismo já não estava sofrendo perseguição, pois o último imperador romano que a realizou foi Diocleciano em 305. Então vejo que em tempos difíceis, de adversidade e contrários à igreja os dons eram usados para confortar, consolar e com certeza converter corações ao Senhor. Não que eles tenham desaparecido, mas que paulatinamente foram deixando de ser concedido aos santos por causa da abertura que o evangelho sofreu.

Claro que, dentro desta minha tese, se hoje uma igreja sofrer perseguição, pode ser que ela tenha esses dons. Mas isso fica pro próximo post.


[1] Creio que vale a pena ler

Monday, July 31, 2006

 

O Que Creio Sobre Dons Espetaculares - Parte 1

Esse tema tem sido muito desenvolvido e discutido hoje no meio reformado. Existem basicamente duas visões que se denominam cessacionistas e contemporanistas. Discorrendo rapidamente sobre essas duas vertentes, nós temos os primeiros como aqueles que crêem que os dons espetaculares (línguas, visões, profecias, revelações, cura, expelir demônios, apóstolos) não estão mais vigentes e não são dados pelo Espírito Santo à sua igreja há algum tempo, por não haver a necessidade real disso. Já o grupo respectivo crê que esses dons ainda vigoram na igreja de Cristo.

Os dons espetaculares na verdade estão mais ligados à milagres visíveis que demonstram um certo tipo de poder e autoridade daqueles que os detém, colocando esses indivíduos na mesma estirpe de apóstolos e profetas descritos na Palavra de Deus. Mas há aqueles que crêem que, apesar destes ofícios não serem mais exercidos no seio do povo de Deus, o dom respectivo pode ser distribuído pelo Espírito.

Eu me encaixo mais no grupo dos cessacionistas, apesar de ter algumas restrições de como ele tem sido ensinado. Confesso que estou muito longe de crer na contemporaneidade dos dons espetaculares, mas deixe-me ser mais específico e explicar melhor minha posição.

Creio que o usufruto dos dons espirituais como eles tem sido divulgados e expostos nas igrejas de cunho neo e pentecostais é falso. Na Palavra do Senhor vejo que os dons são distribuídos pelo Espírito como lhe apraz (1 Co 12:11 e 18) para um fim proveitoso (1 Co 12:6), que se caracteriza na edificação da igreja (Ef. 4:11-12). Além disso, Paulo deixa explicitamente claro que a igreja de Cristo é um corpo, necessitando então de vários membros e cada qual com sua função (1Co 12:12 e 14) e isto não implica necessariamente em fazer qualquer tipo de milagre.

O que temos observado hoje é bem diferente do que foi feito no passado. O entendimento equivocado de algumas passagens bíblicas e a experiência pessoal acima da revelação de Deus têm norteado a prática de uma enorme gama de evangélicos fazendo com que estes caiam no erro de acharem que a prática da santidade ou de uma mensagem poderosa deve vir acompanhada de uma manifestação sobrenatural, enquanto a Palavra nos mostra que os dons espetaculares tinham sempre uma finalidade maior, algo que, pelo próprio nome já se diz espetacular e não banal. A marginalização destes dons fazem com que suas características principais caiam por terra, que são:

1) Manifestar a glória de Deus em tempos de muita incredulidade - Quando os tempos são adversos à Palavra e o contexto do povo é de maior rebelião a Deus, o Soberano dá autoridade a alguns homens para ministrarem cura ou até mesmo fazer coisas fantásticas para que o Evangelho tenha crédito. Então Deus pode mostrar aos incrédulos sua glória e poder quando alguém, que verdadeiramente vai em nome dele use de poderes sobrenaturais para confirmar sua a pregação. Vide Elias e os apóstolos em Atos. Apesar de nossa época também haver incredulidade, os dons serviriam para um local e situação onde há adversidade, contrariedade e reupulsa pelo verdadeiro Evangelho de Cristo, como no caso dos dois exemplos já citados.

2) Edificar a igreja de Deus - Não menos importante, os dons são para edificação do corpo. Quando Paulo escreve aos de Corinto, ele tinha em mente que houvesse esse sentimento no seio da igreja, trazendo então uma ordem e racionalidade, mesmo em meio aos milagres, que erroneamente nos fariam excluir qualquer lógica em detrimento da emoção. Quando os dons eram usados, eles deveriam servir para que a igreja compreendesse os propósitos de Deus e então toda igreja fosse abençoada, e não só alguns poucos; por isso ele fala da necessidade de haver decência e organização no culto. Esta idéia vem somente corroborar com o ensino de que os dons são distribuídos por Deus, conforme lhe apraz para glória dele. A igreja é e pode ser edificada e abençoada sem o uso destes dons, mas a condição corre junto com o argumento acima exposto.

3) Exercer a comunhão - À primeira vista pode parecer que não, mas se nós pensarmos que os dons devem ser exercidos pela igreja para sua edificação e para glória de Deus, cairemos inevitavelmente na comunhão entre os irmãos. Quando Paulo revela aos Coríntios que havia preferência em profetizar à falar em línguas, sua intenção era que os irmão fossem não somente edificados pela palavra, mas também consolados e então, juntos, mostrassem aos incrédulos que Deus realmente estava agindo naquele lugar. A comunhão gerada pela edificação será uma maneira de medir os efeitos que os dons espetaculares têm sobre a igreja.

Na minha visão estes são os argumentos e motivos principais para que os dons espetaculares sejam oferecidos por Deus para sua igreja. Sendo mais específico ainda ouso dar um exemplo prático de como vejo esse tema tão enriquecedor, quando acolhido com humildade:

Não creio que Deus use o dom da cura através de um servo seu para dar crédito à sua Palavra no centro de São Paulo, por exemplo. Não me entendam mal, eu creio absolutamente na Soberania de Deus que pode curar quem quer, quando quer e como quer. Mas algumas evidências bíblicas me motivam a crer que esse não seria um método divino mais comum. Aqui, a palavra de Deus não recebe qualquer tipo de perseguição ou rejeição. Temos liberdade para pregar, evangelizar e falar de Cristo e seu sacrifício para todo mundo ouvir. Não seria necessária um intervenção miraculosa para que o Evangelho fosse realmente reconhecido como a verdade. Agora, creio fielmente que Deus daria a um servo seu, num lugar inóspito e adverso à palavra um "dom momentâneo" de curar alguém para que sua pregação ganhe crédito. Através de uma oração, de uma petição ou até mesmo algum clamor Deus ouviria seu servo, que é fiel à sua palavra e lhe garantiria autoridade para mostrar àquele povo rebelde a Soberania e Salvação que vem do Altíssimo. Mais uma vez repito que Deus faz e sempre fez o que quer e como quer. Mas não vejo respaldo bíblico algum para confirmar o que certas igrejas (até mesmo históricas) têm feito pelo nosso Brasil afora.

Pretendo continuar esse texto falando mais sobre, na minha visão, quando cessaram os dons espetaculares.

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