Wednesday, August 09, 2006

 

O Que Creio Sobre Dons Espetaculares - Parte 2

Minha visão cessacionista


Minha intenção não era tornar este post tão longo, mas...

No post anterior procurei estabelecer um parâmetro, algumas condições pelas quais me fazem crer que alguns dons não sejam concedidos à igreja hoje. Agora, proponho uma visão um pouco mais histórica para tentar mostrar o por quê disto. Não quero aqui excluir em hipótese nenhuma a palavra de Deus, onde eu estaria sendo com certeza incoerente com Deus, comigo mesmo e com a visão reformada; antes, procurarei estabelecer certas "conexões", algum tipo de inferência lógica que está implícita nas Escrituras.

Os milagres permearam o início do Cristianismo. Como enfatizou bem meu amigo nos comentários do último post, eles serviam para abrir os olhos espirituais dos cegos tanto de Jerusalém como da sua circunvizinhança. Os apóstolos "herdaram" essa missão de Cristo, quando são por Ele comissionados à ir por todo mundo trazer as boas-novas de salvação. Então é conferido à esses homens, desde o princípio de sua trajetória o poder de expelir demônios, curar enfermos, receber revelações divinas e até ressucitar mortos [óbvio, só se ressucita quem está morto!]. O cenário religioso inicial é de um povo rebelde que negou a Deus e seu Filho, conduzido por homens maus e hipócritas que colocavam um jugo pesadíssimo sobre o povo. Olhando um pouco para a visão política, eles estavam sobre o domínio de Roma, com seus imperadores tiranos e sua moral depavada, um povo idólatra influenciado pelo sistema grego de filosofia.

Sobre esse contexto geral vêm as obras de Deus através dos discípulos de Cristo, levando uma mensagem de condenação para uns e conforto para os que criam. Muitas vezes essa mensagem era acompanhada de algum sinal, algo que comprovasse o que os apóstolos e os outros discípulos estavam afirmando e colocando à prova. Esse movimento miraculoso foi a marca cristã após a subida de Cristo e também dentro de seu ministério. Nós conhecemos vários relatos bíblicos de milagres e do uso dos dons espetaculares. Negar isso seria negar a bíblia.

Porém, quando observamos algumas coisas que passam desapercebidas nos textos bíblicos, podemos tirar conclusões precipitadas e defender uma visão equivocada, que as Escrituras não ensinam. Um exemplo disso é a passagem de Joel 2:28 conretizada em Atos 2:1-21. Infelizmente muitos têm usado essa passagem do profeta para provar que os dons espetaculares perdurariam sobre a igreja até a volta de Cristo. Uma coisa simples que eles se esquecem é que quando há a concretização de uma profecia ela se torna nula. Muitos dirão que a profecia menciona "nos últimos dias" como confirmação do seu erro. Acontece que Joel nessa passagem não quis dizer 'no decorrer dos últimos dias', mas 'num determinado momento dos últimos dias'. Alguns diriam que a profecia não termina aqui e sim continua descrevendo um possível momento antes da volta de Cristo. Acontece que quando Pedro cita a profecia ele não a cita completamente. Perceba que ele para "e todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo", quando as palavras de Joel continuam "porque, no monte Sião e Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o SENHOR prometeu, e, entre os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar". Será que Pedro não sabia o resto? Ou será que ele propositalmente omitiu o final? Creio que especular não seja o caminho mais coerente, mas são fatos: a profecia já se cumpriu naquele momento; Pedro não a expôs toda naquele momento.

A continuação vêm com esse texto de Atos. Nele podemos perceber claramente que pela providência e soberania de Deus aconteceu para alguns propósitos revelados:

a) o Espírito concedeu no momento que aprouve e como lhe aprouve somente aos galileus (vv.4, 5 e 7)

b) haviam proposialmente vários homens de várias nações (vv. 5, 9, 10 e 11)

c) estes ouviram em sua própria língua as grandezas de Deus (vv. 6 e 11)

Discorrendo um pouco sobre o primeio íten, a Bíblia enfatiza em vários versículos e passagens a soberania de Deus na concessão dos dons espirituais, sejam eles quais forem. Deus não faz nada sem propósitos e naquele momento este dom de línguas foi dado como um sinal, palavrinha meio esquecida pelos contemporanistas, de que toda língua proclamaria as grandezas de Deus, e não somente os judeus. Com isso Deus estava mostrando ao povo e até aos discípulos que lá se encontravam que todos os povos seriam alcançados pela Graça de Deus. Na espístola paulina aos de Corinto, ele mostra que o dom de línguas era um sinal para os incrédulos (1 Co 14:22), o que me faz concluir que este dom se torna "inútil" para igreja se não houver interpretação (1Co 14:27-28) ou algum incrédulo que fale outra língua conhecida, mas isso trataremos no ponto c).

Lucas ao mencionar minuciosamente os estrangeiros que ali se encontravam quer nos mostrar que, pela providência de Deus, suas grandezas foram espalhadas para os outros povos. Assim como Jonas não quis pregar em Nínive pois ele sabia que alguns de lá seriam convertidos, a Palavra do Senhor tem o poder de transformar vidas e convertê-las ao Senhor. Sendo assim, posso crer que este foi ato Soberano de Deus para que ele fosse conhecido e reconhecido em outros povos de outras línguas e que essa mensagem pudesse ser passada adiante.

Talvez esse último íten seja onde os pentecotais mais "engasgam". A bíblia (graças à Deus!) é claríssima ao mostrar que as línguas faladas são conhecidas e inteligíveis para outros povos. Não há sequer uma pasagem colocada em seu contexto devido que mostre o contrário. Para mim só esse fato bastaria para condenar o evangelicalismo que tem sido praticado por aqui.

Para finaliza, vou dar alguns testemunhos [1] de homens que foram heróis da fé, corroborando com a idéia de que os dons cessaram:

João Crisóstomo (347-407 d. C.) - "Este lugar está completamente obscuro; mas a obscuridade provém da nossa ignorância dos fatos referidos e por sua cessação, sendo que os que então ocorriam, agora já não acontecem" (Homilias sobre 1 Coríntios. vol. XII - Os Pais Nicenos e Pós-Nicenos)

Agostinho (354-430 d. C.) - "No período primitivo, o Espírito Santo caiu sobre os que criam; e falavam em línguas que jamais haviam aprendido, 'como o Espírito Santo lhes concedia que falassem'. Eram sinais adaptados a essa época. Precisava haver aquela evidência do Espírito Santo em todas as línguas, mostrando que o evangelho de Deus havia de correr através de todas as línguas sobre a terra. Aquilo foi feito como evidência, e então passou." (Dez Homilías sobre a Primeira Espístola de João, vol. VII, Os Pais Nicenos e Pós-Nicenos, vol. VI, 10)

Perceba a data de nascimento destes homens. Minha tese é de que os dons cessaram quando a perseguição cessou. Nós sabemos que por volta de 311 d.C. o Cristianismo já não estava sofrendo perseguição, pois o último imperador romano que a realizou foi Diocleciano em 305. Então vejo que em tempos difíceis, de adversidade e contrários à igreja os dons eram usados para confortar, consolar e com certeza converter corações ao Senhor. Não que eles tenham desaparecido, mas que paulatinamente foram deixando de ser concedido aos santos por causa da abertura que o evangelho sofreu.

Claro que, dentro desta minha tese, se hoje uma igreja sofrer perseguição, pode ser que ela tenha esses dons. Mas isso fica pro próximo post.


[1] Creio que vale a pena ler

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